9.4.11

Alô Alô Realengo

Hoje recebi um email de meu amigo de infância Renato. Ele lamentou a entrada de nosso bairro no mapa das tragédias mundiais. Foi lá que um "maluco sem causa" trucidou crianças inocentes a queima-roupa. Realengo.
De repente lá estava Fátima Bernardes, Ana Paula Padrão, Luiz Bacci...Toda mídia impressa , eletrônica, radiofônica...

Um dos bairros mais antigos da cidade, Realengo sempre existiu como uma espécie de zona invisível. Um bairro que não existe. Um limbo espacial onde o poder público, imprensa e as populações de outros bairros mais nobres faziam questão de imaginar sua inexistência. Conheço pessoas que omitem sua origem no bairro. São pessoas sem passado e de história incompleta.
Mas foi exatamente de lá, desse local muito real para nós, desse "borrão no mapa" para os outros, que uma tragédia de proporções mundiais arrebatou e ceifou a vida de crianças inocentes. E também foi a partir de lá que sua gente simples foi exposta ao mundo.
O lugar onde nasci e passei minha infância, jaz moribundo, ferido de morte. Surge para a vida aos olhos dos outros em seu momento mais trágico, em seu momento de dor e sofrimento.

Se a partir de agora as autoridades darão mais atenção àquela região eu não sei. Só sei que se o preço a ser pago por essa atenção é esse...por favor devolva-nos ao limbo. Devolva-nos nossas crianças.

Marcos Santos
Rio de Janeiro


Em tempo:  A frase "Alô Alô Realengo" da música "Aquele Abraço" de Gilberto Gil, não é uma saudação ao povo de Realengo. Na verdade é uma frase de provocação aos militares dos quartéis situados nos bairros próximos.

5 comentários:

Carlos, um jeito tabajara de ver a vida disse...

Marcão, aquele abraço!!!!!!!!!!!!!lamentavel episodio este de Realengo.. lamentavel tambem, a atuação da imprensa global.

Abraço!!!!!!!!!!!

Lau Milesi disse...

Oiii Marcos, como vai? Seu post deveria ser publicado nos jornais que circulam na nossa abalada cidade.
Verdade pura. Sei não...mas acho que é a primeira vez que um prefeito (já eleito, lógico) vai a Realengo.Os políticos só lembram de visitar os bairros abandonados em época de eleições quando prometem e prometem...
Nasci em Campo Grande e foi lá que passei parte da minha felicíssima infância.Tempos depois, já mocinha, voltei como professora e trabalhei na Estrada do Monteiro e em Bangu , pertinho de Realengo . Tempo bom, um tempo em que as crianças nem imaginavam que existiam essas aberrações humanas, o bullying. Esse último , então, passou a ser o grande vilão das loucuras nesse mundo .Aliás, nesses mundos, pois não é só no mundo real, no virtual também (e como) .
Senti muito essa tragédia, muito.Fiz um flasback da síndrome do pânico, que me pegou de jeito quando assisti um amigo e colega de trabalho ser morto com 7 tiros dentro do carro oficial em que vínhamos do trabalho.Posso imaginar (mesmo) o que essas pobres crianças passaram. A sensação é indescritível.

Um beijo pra vocês três.

Luiz Santilli Jr disse...

Marcão
Como sempre, a sua visão mais que perfeita da realidade.
Também me revolta o papel dessa mídia global, que faz das tragédias sua forma de faturar mais e mais!
São os crimes, as chuvas que inundam nossas cidades, os trágicos acidentes, e muitas outras misérias!
Não há palavras para descrever o ocorrido no Realengo.
Costumo falar aos meus amigos, quando ocorre uma barbaridade dessas, que é fruto da "criação imperfeita", parafraseando o título do maravilhoso livro de Marcelo Gleiser, seu conterrâneo e grande cientista.
Talvez se tivessem chamado o Realengo de Engenho Real as coisas fossem diferentes!
Todo meu apoio ao seu desabafo!

Abraço

Unknown disse...

Marcos
Você relatou muito bem seus sentimentos em relação à chacina ocorrida na última quinta-feira em seu Realengo.
Mas, acho que como tudo ocorreu foi inevitável. Pelo que foi relatado aquele rapaz era psicótico e estava muito determinado a agir daquela forma cruel, para todos nós.
Há uma suspeita de que a sua cabeça doentia foi incentivada (via internet) por mentes não doentias, mas sim muito cruéis. São os que usam os fracos para executarem suas taras.
Havia fanatismo religioso, o que também deve ter sido incentivado.
Tive uma experiência, em proporções diferentes, com uma pessoa que trabalhava em minha casa e depois de passar a frequentar uma determinada religião, ficou fanática, tornou-se agressiva com os que não a seguiam. O fanatismo religioso faz isso, temos exemplos no Oriente, matam em nome de "Alá"!
Desculpe-me as muitas palavras.
Um abraço e tudo de bom!

Marcos Santos disse...

Já esqueceram

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