Minha sobrinha pediu-me auxílio a respeito desse tema. Afinal, como pai de um menino com paralisia cerebral e perdas cognitivas severas, além de cego e cadeirante, seria natural o meu conhecimento a respeito do caso. Sei que minha opinião não é válida para trabalhos acadêmicos, principalmente por não constar da bibliografia vigente. Mas sei que minha opinião não é especulativa e não brota de teorizações ou ilações. Brota de minhas necessidades e observações do dia a dia.
Antes de tudo, vamos deixar claro que a pessoa com necessidades especiais é uma pessoa com deficiências. Essas deficiências podem ser motoras, visuais, auditivas, mentais... Então vamos chamar a pessoa com necessidades especiais, simplesmente de “deficiente”. A expressão “pessoa com necessidades especiais” é por demais hipócrita, piegas e não resolve o problema.
Todo cidadão tem direito à educação, seja ele deficiente ou são. Quando o estado preocupa-se, tentando viabilizar a educação dos deficientes, está na verdade, tentando cumprir com sua obrigação, educar o cidadão. Não há aí, no caso do cumprimento de metas educacionais, motivos para vangloriar. A educação especial inclusiva trabalha principalmente com ferramentas possíveis, ao alcance da unidade de ensino e do educador. No entanto, a educação verdadeiramente inclusiva (no meu modo de pensar), totalmente negligenciada por todos, é a educação inclusiva de toda a sociedade.
Por exemplo: Um deficiente, tendo recebido toda educação necessária para sua participação no mercado de trabalho, esbarra na falta de educação inclusiva do resto da população. No contexto dessa falta de educação, podemos incluir o próprio estado, que pouco faz e quando faz algo, o faz em tom de paternalismo.
Arquitetos, engenheiros, urbanistas, entre outros construtores, só iniciaram uma preocupação mais incisiva com a acessibilidade, devido a força da lei. Ou seja, na verdade o fizeram por imposição, não por ideologia social ou convicção.
A educação especial, aplicada ao deficiente, inclusiva ou não, poderá ter sua efetivação limitada pelo grau de deficiência, associado ao grau de determinação e empenho do mesmo, ambos associados ao tipo de função almejada.
De qualquer forma, mesmo obtendo êxito educacional ou profissional, o deficiente esbarrará no seu dia a dia, na falta de educação inclusiva do resto da população.
Quando vemos cones, correntes, entre outros tipos de barreiras, protegendo as vagas de especiais para automóveis, nos shoppings e nos supermercados, temos aí um dos grandes indicadores da falta de educação inclusiva da sociedade como um todo, de como a sociedade é egoísta e excludente.
Se levarmos em conta que essas barreiras existem para a proteção dessas vagas, contra o abuso de pessoas sãs, possuidoras de carros, não podemos desconsiderar o nível econômico e educacional dessas pessoas. Elas estão na parte de cima da pirâmide.
Essas são as mesmas pessoas, que por algum momento na vida, tiveram seus filhos e sentiram as dificuldades dos deficientes, ao empurrarem seus carinhos de bebês. Nesse período sentiram-se prejudicadas em seu direito de acesso. Mas logo os filhos crescem, os carrinhos de bebês são aposentados e esses pais estão prontos para burlar o direito dos outros, deficientes que continuam precisando das vagas especiais e infelizmente, dos cones para guardá-las. Fôssemos uma sociedade inclusiva, esses cones não existiriam. Não com essa função.
A educação inclusiva deve ser reavaliada e rediscutida, pois uma sociedade inclusiva inclui os excluídos, enquanto uma sociedade excludente jamais incluirá os excluídos, por mais educação inclusiva que estes venham a receber.
O ser humano deve aprender a incluir os diferentes desde criança, independente da convivência ou não com eles. Somente assim, com uma sociedade menos egoísta e mais fraterna, a verdadeira inclusão será alcançada.
Marcos Santos
Rio de Janeiro