
...A conversa estava animada à mesa do restaurante Frango Assado, na Rodovia Washington Luis, em Raiz da Serra e eu, como sempre, de bicão. Afinal universitário e duro, só freqüenta restaurante na aba do sogrão.

Alguns galetos com farofa e fritas depois, somando-se a muito chopp, é chegada a hora da sobremesa.
Minha então futura sogra, de cara já joga uma ducha fria e vai logo pedindo o café, meu cunhado e minha namorada a acompanham no pedido.
Eu sinceramente hesitei... não existia num raio de cem quilômetros, café pior do que o cafezinho de bule do Frango Assado.
Já estava quase me entregando ao digestivo requentado, quando uma voz salvadora surge em meio ao burburinho do restaurante.

-Quero tomar um sorvete! Você quer?
-Quero! Respondi de pronto.
-Então escolhe um bom pra gente. Autorizou-me o bom corôa.
Na mesma hora acenei para o garçom e assim que ele encostou ao meu lado fui perguntando:
-Vocês têm sorvete de quê?
-Todas as frutas, respondeu-me o serviçal sorridente.
-Então traz dois de fruta-de-conde.

Aí o garçom desenterra um, até então oculto, sotaque paulistano e "manda", em tom repreensivo:
-É de fruta popular, né ôô meu!
Com a velocidade de um raio, reformulo o pedido do sorvete com uma fruta bem popular.
-Então traz dois sorvetes de banana.
O garçom, já enrubescido e esquecendo-se totalmente da popularidade nacional da banana, retruca:

-De banana não tem, né ôô amigôô.
-Maçã, então?
-Não tem.
-Laranja?
-Tá de sacanagem comigo né ôô bacaná?
Sentindo que o “distinto” estava perdendo a compostura, resolvi não mais arriscar minha integridade e perguntei:
-De que frutas populares são feitos os seus sorvetes, afinal?
-De todas as frutas populares. De baunilha, de flocos, creme, napolitano... .

Em outras palavras, ele só tinha KIBON...
Marcos Santos
Rio de Janeiro