Hoje recebi um email de meu amigo de infância Renato. Ele lamentou a entrada de nosso bairro no mapa das tragédias mundiais. Foi lá que um "maluco sem causa" trucidou crianças inocentes a queima-roupa. Realengo.
De repente lá estava Fátima Bernardes, Ana Paula Padrão, Luiz Bacci...Toda mídia impressa , eletrônica, radiofônica...
Um dos bairros mais antigos da cidade, Realengo sempre existiu como uma espécie de zona invisível. Um bairro que não existe. Um limbo espacial onde o poder público, imprensa e as populações de outros bairros mais nobres faziam questão de imaginar sua inexistência. Conheço pessoas que omitem sua origem no bairro. São pessoas sem passado e de história incompleta.
Mas foi exatamente de lá, desse local muito real para nós, desse "borrão no mapa" para os outros, que uma tragédia de proporções mundiais arrebatou e ceifou a vida de crianças inocentes. E também foi a partir de lá que sua gente simples foi exposta ao mundo.
O lugar onde nasci e passei minha infância, jaz moribundo, ferido de morte. Surge para a vida aos olhos dos outros em seu momento mais trágico, em seu momento de dor e sofrimento.
Se a partir de agora as autoridades darão mais atenção àquela região eu não sei. Só sei que se o preço a ser pago por essa atenção é esse...por favor devolva-nos ao limbo. Devolva-nos nossas crianças.
Marcos Santos
Rio de Janeiro
Em tempo: A frase "Alô Alô Realengo" da música "Aquele Abraço" de Gilberto Gil, não é uma saudação ao povo de Realengo. Na verdade é uma frase de provocação aos militares dos quartéis situados nos bairros próximos.
5 comentários:
Marcão, aquele abraço!!!!!!!!!!!!!lamentavel episodio este de Realengo.. lamentavel tambem, a atuação da imprensa global.
Abraço!!!!!!!!!!!
Oiii Marcos, como vai? Seu post deveria ser publicado nos jornais que circulam na nossa abalada cidade.
Verdade pura. Sei não...mas acho que é a primeira vez que um prefeito (já eleito, lógico) vai a Realengo.Os políticos só lembram de visitar os bairros abandonados em época de eleições quando prometem e prometem...
Nasci em Campo Grande e foi lá que passei parte da minha felicíssima infância.Tempos depois, já mocinha, voltei como professora e trabalhei na Estrada do Monteiro e em Bangu , pertinho de Realengo . Tempo bom, um tempo em que as crianças nem imaginavam que existiam essas aberrações humanas, o bullying. Esse último , então, passou a ser o grande vilão das loucuras nesse mundo .Aliás, nesses mundos, pois não é só no mundo real, no virtual também (e como) .
Senti muito essa tragédia, muito.Fiz um flasback da síndrome do pânico, que me pegou de jeito quando assisti um amigo e colega de trabalho ser morto com 7 tiros dentro do carro oficial em que vínhamos do trabalho.Posso imaginar (mesmo) o que essas pobres crianças passaram. A sensação é indescritível.
Um beijo pra vocês três.
Marcão
Como sempre, a sua visão mais que perfeita da realidade.
Também me revolta o papel dessa mídia global, que faz das tragédias sua forma de faturar mais e mais!
São os crimes, as chuvas que inundam nossas cidades, os trágicos acidentes, e muitas outras misérias!
Não há palavras para descrever o ocorrido no Realengo.
Costumo falar aos meus amigos, quando ocorre uma barbaridade dessas, que é fruto da "criação imperfeita", parafraseando o título do maravilhoso livro de Marcelo Gleiser, seu conterrâneo e grande cientista.
Talvez se tivessem chamado o Realengo de Engenho Real as coisas fossem diferentes!
Todo meu apoio ao seu desabafo!
Abraço
Marcos
Você relatou muito bem seus sentimentos em relação à chacina ocorrida na última quinta-feira em seu Realengo.
Mas, acho que como tudo ocorreu foi inevitável. Pelo que foi relatado aquele rapaz era psicótico e estava muito determinado a agir daquela forma cruel, para todos nós.
Há uma suspeita de que a sua cabeça doentia foi incentivada (via internet) por mentes não doentias, mas sim muito cruéis. São os que usam os fracos para executarem suas taras.
Havia fanatismo religioso, o que também deve ter sido incentivado.
Tive uma experiência, em proporções diferentes, com uma pessoa que trabalhava em minha casa e depois de passar a frequentar uma determinada religião, ficou fanática, tornou-se agressiva com os que não a seguiam. O fanatismo religioso faz isso, temos exemplos no Oriente, matam em nome de "Alá"!
Desculpe-me as muitas palavras.
Um abraço e tudo de bom!
Já esqueceram
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