3.11.08

Nosso Oxigênio


Será?

Outro dia postei fotos de uma plantação de bananeiras, infiltrada na Mata Atlântica. Mais especificamente no Maciço da Pedra Branca, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Curiosamente um dos comentários veio da Virginia, Estados Unidos e ele dizia mais ou menos assim: “É muito triste, temos essa grande floresta para sobreviver. Ela é nosso oxigênio.”

Esse comentário me fez refletir sobre o que vem ocorrendo no mundo, nos últimos séculos.

É do conhecimento de todos que o Brasil detém a maior reserva vegetal do mundo. Enquanto vivíamos como aborígines, o mundo queimava todo o seu estoque de madeira, incluindo a Mata Atlântica Brasileira, que se estendia de norte a sul do país, serpenteando o Oceano Atlântico. Os portugueses retiraram daqui, até a beira da extinção, a madeira que deu nome à minha terra, o pau-brasil.
Obviamente também somos responsáveis por boa parte do que foi devastado, mas em número insignificante, se comparado ao que foi feito no hemisfério norte.

Agora, voltando ao Maciço da Pedra Branca, vou fazer algumas considerações que gostaria de dividir com os amigos.

O Rio de Janeiro é uma metrópole com seis milhões de habitantes, sendo que na zona metropolitana (inclui as cidades dormitórios) vivem perto de dez milhões. É muita gente, não acham? Conseguem imaginar uma cidade com tamanha concentração populacional na Europa?
Difícil imaginar.
Mas agora pensem na quantidade de mata existente nas cidades Européias, ou Norte-Americanas, principalmente nas metrópoles. O resultado é de uma aridez de impressionar.

O Maciço da Pedra Branca, Maciço da Tijuca e Maciço do Mendanha, estão encravados no coração da cidade do Rio de Janeiro. Eles são as cadeias montanhosas, que formam a bela geografia dessa cidade. Neles encontramos a maior floresta urbana de todo o mundo.
Se estão lá, é porque de alguma forma, preservamos, pois como morador de uma metrópole, sei dos grandes desafios que encontramos para morar, trabalhar e ainda conviver com a mata, sem destruí-la.

Não nos enganemos em achar que sabemos mais da grama do jardim do vizinho do que da nossa própria grama.

A amiga da Virgínia, se está preocupada com seu ar, pode começar cuidando do próprio jardim e deixar que cuidemos do nosso, pois isso nós sabemos fazer muito bem. (Ao menos, melhor do que ela).

Marcos Santos
Rio de Janeiro

6 comentários:

Paula disse...

Muito bem! Que cada macaco cuide o seu galho! Principalmente os americanos que só saben cortar-los.

Anônimo disse...

Nem tanto à terra, nem tanto ao mar, costuma dizer-se em Portugal.

Se os EUA não são propriamente um modelo no que concerne à preservação da Natureza, não sei se o Brasil não seria credor de alguma ajuda na questão da Amazónia tal é o saque!

Ele é a soja, ele é a picanha. ele é isto e aquilo ... no ponto em que chegamos, se calhar mais vale apostar na solidariedade e no colectivo!

Tiago R Cardoso disse...

de facto devemos começar por resolver o nossos problemas...

joshua disse...

Marcos, por vezes a própria Natureza persiste em se regenerar, apesar da acção nefasta do Homem, tal me parece ser o caso que relatas. A minha mulher ensinou-me a desbastar a minha Mata Atlântica e hoje tenho no meu corpo um território onde os dedos dela já não se se podem perder, embora se percam.

No caso da virginiana, provavelmente faz como muitos norte-americanos que facilmente se vêem a tutelar o mundo inteiro, as reservas biológicas, as amazónias e a declarar que fariam melhor trabalho que os povos originários. Tanto assim é que para eles o mundo mais parece um protectorado dos EUA, pensamento por vezes assustador.

Faz-me lembrar certos bloggers que também botam olho gordo nos excessos alheios e expurgam do convívio dos vivos os demasiado desalinhados. E porquê? Porque dentro da sua comunidade de gente previsível e sob controlo é muito desagradável haver um candidato à fogueira, ao calaboiço, à extinção precisamente por ser demasiado imprevisível e fora do controlo. Normalmente, os políticos são muito controleiros e mafiosos. A bloga tornou-se uma extensão das suas apetências controlísticas e por isso agem em conformidade.

Quanto à polémica em torno do nome dado à tua e minha terra, BRASIL, ouvi um de estes dias, pela rádio TSF, um doutorado Especialista açoreano a discorrer sobre o critério de nomeação das terras descobertas pelos portugueses e as informações que aduziu levaram-me a rever inteiramente o porque o Brasil se chama Brasil, aula que Em Literatura Brasileira, diga-se, ficava sempre bastante inconclusiva dadas as múltimplas hipóteses aprensentadas.

Segundo ele, e tendo em mente os relatos de conhecimento das ilhas açoreanas anteriores e contemporâneas a 1431, o nome ulteriormente dado ao Brasil nada tem a ver com o Pau, embora a abundância e as características das novas terras tivessem a ver com o nome que lhes seria aposto [Cabo Verde, Costa do Mafirm, Costa dos Esccravos, Mina, COsta do Ouro]. Mas não este era o único critério.

Fiquei a saber que Brasil tem a ver com uma outra coisa: é na verdade uma evolução e aportuguesamento de uma palavra gaélica, celta, Brashel, presente numas narrativas fantásticas de um Santo irlandês de cujo nome me não recordo, mas provavelmente é São Brandão [São Brandão (484-577), o Navegador, ou São Brandão de Ardfert e Clonfert, terá nascido em Ciarraighe Luachra, próximo da actual cidade de Tralee, condado de Kerry, Irlanda, por volta do ano 484 (a data de 486 também é apontada). Baptizado (em Tubrid, Ardferd) e educado pelo célebre bispo Erc de Kerry e por Santa Ita (a Brígida de Munster, que o criou durante cinco anos), abraçou a vida monacal e tornou-se abade (terá sido ordenado pelo bispo Erc em 512). Após a ordenação iniciou um percurso que faria dele um dos mais conhecidos santos da Ordem Irlandesa. Faleceu no ano de 577 em Annaghdown (então Eunachdunne), condado de Galway, Irlanda, e foi enterrado na abadia de Clonfert, no mesmo condado. A sua celebridade foi tal que diversos pontos da costa ocidental irlandesa receberam topónimos em sua honra (Brandon Point, Brandon Bay e Brandon Head, entre outros)São Brandão deve a sua notoriedade, e o cognome de Navegador pelo qual ficou conhecido na literatura medieval, às suas famosas viagens.

Nascido na costa ocidental da Irlanda, então a fronteira ocidental do mundo conhecido, São Brandão empreendeu um vasto périplo de missionação e fundação de abadias, que do oeste irlandês, onde lhe é atribuída, entre os anos 512 e 530, a fundação de abadias em Ardfert (condado de Kerry), Inishdadroun (condado de Clare), Annadown (condado de Galway) e Clonfert (condado de Galway), o levaram a visitar a Escócia, onde, depois de 563, terá encontrado São Columba e participado na fundação de um mosteiro, e o País de Gales, onde terá sido abade de Llancarvon e onde terá encontrado o célebre Machutus (mais conhecido por S. Malô).

Contudo, foram as viagens marítimas, num tempo em que as antigas rotas norte-atlânticas estavam prestes a desaparecer, que lhe trouxeram a celebridade: terá visitado a Bretanha, as ilhas Órcades e Shetland e possivelmente as Faroe, um feito então incomum.

A sua biografia, a Vita Sancti Brendani, cuja cópia mais antiga terá sido composta em latim eclesiástico por volta do século X, transformou-se num dos escritos mais copiados da alta Idade Média, merecendo traduções e versões várias. A partir da Vita Sancti Brendani, num processo talvez interactivo, nasceram diversas lendas que aparecem hoje no legado cultural da maioria dos povos da costa ocidental europeia, particulamente os de origem celta.
A ilha descrita nas Navigatio Sancti Brendani ficou conhecida por Ilha de São Brandão (e por vezes por Ilhas Afortunadas ou mesmo Ilha do Brasil), vindo juntar-se ao numeroso grupo de terras que se dizia existiam no Atlântico. A existência destas terras, por vezes referidas por terras brendanianas, foi no advento da Renascença uma importante motivação no movimento dos descobrimentos europeus.

A ilha de São Brandão aparece em quase todos os mapas medievais, ocupando no Atlântico Norte posições que vão desde o oeste da Irlanda à Terra Nova, aos Açores, às Antilhas e às Canárias. A configuração da ilha varia desde uma pequena ilha circular até uma enorme ilha alongada.

Entre as ilhas que durante mais tempo foram identificadas com as ilhas brendanianas está o arquipélago dos Açores, em particular a ilha do Faial.

Dentro da tradição brendaniana, o nome de ilha de São Brandão foi levado às sete partidas do mundo. Talvez a sua sobrevivência mais remota seja a ilha de Saint-Brandon, nome oficial porque é conhecido o atol de Cargados Carajos, sito no arquipélago das Mascarenhas, em pleno Oceano Índico (16º 58’ S; 59º 60’ E), 430 km a nor-nordeste da Maurícia, de que depende administrativamente.
Para além das viagens no mundo conhecido, a lenda atribui a São Brandão a realização de uma longa viagem pelo Atlântico noroeste que o teria levado a uma terra, geralmente descrita como uma ilha, sita fora do mundo conhecido. Esta viagem, descrita nas múltiplas versões da Navigatio Sancti Brendani, um relato complementar à “Vita Sancti Brendani” cuja primeira versão escrita conhecida data dos séculos X ou XI (com uma tradução francesa datada de 1125), inflamou a imaginação dos povos marítimos da Europa, mantendo vivo o desejo de conhecer o que se escondia para além do horizonte do mar.

A viagem de São Brandão, como é descrita nas Navigatio Sancti Brendani, inicia-se com a partida de Brandão, acompanhado por um numeroso grupo de monges (seriam 60 nalguns relatos) da sua abadia de Shanakeel (ou Baalynevinoorach), nas proximidades de Ardfert, costa ocidental da Irlanda, em busca da Ilha das Delícias (ou do Paraíso). Na sua motivação estaria o conceito medieval de peregrinação, bem patente na presença de eremitérios ao longo das costas e nas pequenas ilhas costeiras desabitadas (como os do Cabo Espichel ou da Arrábida), e a busca dos lugares míticos desaparecidos.

De acordo com o antigo calendário eclesiástico irlandês, a viagem teria sido iniciada a 22 de Março (no qual a Igreja celta celebrava a festa do Egressio familiae Sancti Brendani). O número de companheiros varia de acordo com as versões das viagens entre os 18 e os 150, mas na litania composta no século VIII por São Ängus são invocados os 60 que acompanharam São Brandão.

A viagem terá durado sete anos durante os quais foram visitados diversos lugares e encontrados as mais exóticas criaturas, entre as quais uma baleia tão grande que foi confundida com uma ilha e sobre qual fizeram os monges uma fogueira. Ao fim desta longa e aventurosa travessia, São Brandão e a sua equipagem de monges atingiram finalmente a Terra Repromissionis, o Paraíso, uma terra de indescritível beleza e luxuriante vegetação. Infelizmente a narrativa não nos indica a rota seguida, pelo que a verdadeira localização do Paraíso de São Brandão ainda permanece um mistério.

Após o seu regresso à Irlanda, a história da viagem de São Brandão correu o mundo cristão e em breve a costa oeste da Irlanda converteu-se num importante centro de peregrinação, com Ardfert no seu centro. Naquela região formaram-se múltiplas abadias e casas religiosas, em especial em Gallerus, Kilmalchedor, Brandon Hill e nas ilhas Blasquet.
], um documento irlandês que na alta Idade Média, uma vez traduzida, foi uma das narrativas de culto, além da saga arturiana, e que basicamente falava umas ilhas ocidentais a ocidente da Irlanda. Eram ilhas fecundas e fantásticas, portanto, paradisíacas.

Quando os portugueses acharam os Açores, ao chegar à terceira ilha [as outras era avistáveis] nomearam um lugar, perto da Angra, de Brassil, evolução do conceito brashel, hoje Monte Brasil, na Ilha Terceira.

Os historiadores sempre se questionaram sobre o motivo por que, muito antes da descoberta achatória do Brasil, havia este lugar assim nomeado, foi possível ligá-lo às tais narrativas gaélicas medievais de São Brandão, meio fantásticas sobre uma ou várias ilhas ocidentais, Brashel:
O Monte Brasil é uma península situada na costa Sul da Ilha Terceira, Açores, em cujo istmo e costa adjacente se situa a cidade de Angra do Heroísmo.

A península é um antigo vulcão extinto, com origem no mar, composto por uma caldeira rodeada por quatro picos: o Pico das Cruzinhas, o Pico do Facho, o Pico da Vigia (da baleia) e o Pico do Zimbreiro. Mantém restos da cobertura vegetal original e encontra-se classificada como Reserva Florestal de Recreio.

Forma duas baías: a baía de Angra, a Leste, que deu o nome à cidade, e a baía do Fanal, a Oeste.

De seu alto descortina-se uma vista panorâmica sobre a cidade, sua baía e marina, o Porto Judeu, a Ribeirinha, os Ilhéus e, para Poente, desde a baía do Fanal, passando pela baía de Villa Maria até à freguesia São Mateus da Calheta. Do seu topo, em dias limpos pode ver-se, para o Poente, a ilha de São Jorge e a ilha do Pico, a freguesia piscatória de São Mateus da Calheta; o Caminho de Baixo, a localidade de São Carlos, a zona balnear da Silveira e toda a cidade de Angra. A Este, subindo a Serra da Ribeirinha, vê-se a freguesia do mesmo nome, mais abaixo, junto ao mar o Porto Judeu surge, juntamente com a vista dos Ilhéus das Cabras. Olhando para o interior, descortina-se a maior elevação da ilha, a serra de Santa Bárbara, ao lado da Serra do Morião ou da Nasce Água.

Entre o final do século XVI e o início do XVII, foi quase que inteiramente rodeada pelos espanhóis por uma das maiores fortificações atlânticas da época: a Fortaleza de São João Baptista. Era ela que, juntamente com o Forte de São Sebastião, defendia a cidade e o porto de Angra dos ataques dos piratas e corsários que tentavam apoderar-se das riquezas trazidas pelas naus da Carreira da Índia.

No Monte Brasil existem outros locais de referência como é o caso da Ermida de Santo António, erguida em 1615.

Porque fiquei fascinado com esta matéria, tive de partilhá-la contigo, investigando um pouquito mais. Se pesquisares Brashel aparece-te o vínculo de estas histórias com a onomástica irlandesa na Irlanda e nos Estados Unidos.

Abraço e atenção aos cães de fila.

António de Almeida disse...

Conseguem imaginar uma cidade com tamanha concentração populacional na Europa?

-Londres!

Marcos Santos disse...

Olá Josh!

Gostei muito da teoria. A bem da verdade me parece muito mais apropriada do que a teoria simplista do pau brasil. As palavras evoluem com o passar dos tempos e o que parece de origem latina, por vezes tem origem cética ou grega, ou árabe, ou...


Gostei da sua explanação e acho que vale a pena fuçar sobre esse assunto. Aqui existem muitas lendas interessantes que contam da chegada dos fenícios no Rio de Janeiro, muito antes dos navegadores europeus. A Pedra da Gávea seria um de seus santuários.

Olá António!
Tudo bem, Londres tem muita gente, mas quantos pés de alface tem plantados por lá?

Bom dia. fotografia, natureza, NatureBeauty, riodejaneiro, recreiodosbandeirantes, photooftheday, photography