22.7.08

Despertador? Que despertador, que nada!


Senta aí!
Enquanto o Bangu não joga por lá, vamos jogar conversa fora por cá.

Mas então...
...cinco horas da manhã o apito da Fábrica Bangu soava. Horário de silêncio? Que nada! O bairro é que cresceu em volta da fábrica. Pra que mudar o ritmo do apito? Os incomodados é que se mudem.

Pois é...
...os operários eram acordados pelo apito às 5:00 horas, para estarem em seus postos de trabalho às 6:00. Legal não?
Ninguém precisava de despertador.

Minha casa ficava a 9 Km de distância e eu, assim como meu pai, acordávamos com a seqüência de 15 minutos de diversas variações no toque (até hoje tenho o sono “leve”).
Ele começava manso, ia aumentando aos poucos e lá pelo quinto minuto já estava esgoelando – oooôôOOÔÔÔÔÔÔ...., direto! E ficava berrando, berrando, berrando.
Lá pelo final, uma sutil mudança, que meus ouvidos infantis traduziam como uuooôôÔÔ uuooôôÔÔ uuooôôÔÔ..., indicava que estava por terminar a “cantoria”, que finalmente seria encerrada pelo apito final ...ÔÔÔÔÔÔOOOOôôoooo°.

Eram 5:20 da madruga. O apito já tinha calado e eu já estava no portão, vendo meu pai caminhar até a esquina, de onde me dava o último aceno.
Agora era só contemplar o nascimento do Sol e acompanhar a movimentação das galinhas.

E o Bangu?
Nada do Bangu jogar...


Marcos Santos
Rio de Janeiro

7 comentários:

Anônimo disse...

Marcos, que prosa realista e enternecedora!
Gostei da ideia de um filho que acompanha o pai até à entrada da fábrica. É quase uma cena digna de Capra!

Já agora, seus gostos musicais, companheiro, são quase todos de quinta-essência!

Luiz Santilli Jr disse...

Parece que tivemoa pais que nos influenciaram demais!

Ótima crônica, digna de um escritor maduro!

É isso, Marcio, que nossos filhos possam ver em nós uma pequena luz, que nossos pais nos legaram!

Abração e não perca esta semana meu SKY, você vai gostar!

Descolada disse...

Desde que te li pela primeira vez, vc me prendeu.
É que crônica é o estilo que mais gosto de ler e vc é um bom cronista.

O bom cronista é aquele que consegue pegar uma cena banal e ver a poesia, a graça ou o encanto contidos e ainda tem a facilidade de conseguir transmitir essas sensações aos leitores.

Uma de série de TV que mais aprecio e não me canso de rever é Seinfeld, a série dita "sobre o nada".

Na verdade ela é como vc, pega temas do cotidiano e transforma em crônicas cheias de humor e singelas.

Daniel J Santos disse...

Muito bom, sim senhor...

Anônimo disse...

ainda bem q o meu pai me levou pra perto, mas nao tao perto que me permitisse ouvir o soar de chamamento da fábrica....eu até q acordava cedo, mas com o gostoso "grito" do galo no quintal , que era prontamente respondido pelo galo do vizinho e depois ia se afastando até q o som sumia à distância, dai eu me levantava, meio a contragosto apesar do chamado do galo e ia me preparar para mais uma jornada escolar. Enquanto isso, vc observava o pai indo pra labuta.

Muito bom cara, parabéns, abraços...

Pedro Du Bois disse...

Caro Marcos,
fantástico o boca diurna. o texto, excelente! o toque sutil entre passado e presente, irrepreensível.
parabéns por mais esse espaço.
abraços,

Pedro Du Bois

Ramosforest.Environment disse...

Que tempo bom...

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