23.4.08

Pelas ruas que ando...

Em homenagem aos meus amigos Rose e Quintino, estou repostando esta crônica.



Av das Américas, 4666.

















A expectativa está criada.


O sinal se fecha e inicia-se uma corrida pelos espaços, entre os carros.

O pequeno artista elabora sua pequena e rápida apresentação com limões.

Deve ter uns oito anos e não tem idéia de que ao volante da caminhonete Toyota Hylux, de cor prata, existe um homem adulto, maduro, instruído, profissionalmente realizado, “politicamente correto” e cheio de si, que no entanto, o teme.

O menino, apesar de vítima, apresenta-se a um dos atores da sociedade, como um vilão potencial.

Seu show de malabarista não agrada... e não poderia agradar mesmo... Sua barriga ronca, seus pés queimam no asfalto quente, e seus pequenos braços já não agüentam os movimentos repetitivos de seu desajeitado número circense.

Neste momento, o cidadão do Toyota, sentindo que o semáforo vai abrir, se enche de confiança e autoridade. Em seguida balança a cabeça negativamente com ar professoral e reprovador.

A luz verde acende e ele vai embora.

Já o menino de oito anos ?

Continua ali, fazendo seu papel de malabarista-quase-vilão, até os nove, dez, onze,..., sem título, sem crédito, sem face, sem nome, sem fim.


Marcos Santos

5 comentários:

Ramosforest.Environment disse...

A Rosa é uma suavidade de poetisa e minha madrinha literária.
O Quintino é um quarentão que conheço há pouco tempo mas que nos cativa por sua energia. Ele é mais jovem que minha primeira máquina fotográfica!
Ambos merecem sua homenagem.
Luiz Ramos
PS. Parabéns pro Quintino!

Só- Poesias e outros itens disse...

Marcos: gostei da sua crônica, por vários motivos, ela é real e cruel ao mesmo tempo, nesta realidade onde mergulhamos de esperança, e o que vemos são retratos de uma juventude sem ter o que desejar. Quando vejo essas crianças fazendo acrobacias, sinto pena e me sinto inútil por não ter o que fazer.

bjs.

JU Gioli

Unknown disse...

E vai ver com fome...Bom domingo!

Anônimo disse...

Marcos

Fico feliz em ser hmenageada aqui nesse espaço que considero um dos mais completos da web.

beijos

Rosa Rosácea

Anônimo disse...

Marcos, esta sua surpresa comoveu-me!
Sinceramente, penso que sua descrição quase poética de um menino de rua seria digna de figurar nas páginas de um jornal de prestígio, uma revista social.
Seu olhar clínico aliou-se à sensibilidade da sua alma e resultou num momento quase único.
Obrigado.

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